sexta-feira, outubro 06, 2006

Morrer de Amor

«Os jornais dão todos os dias notícia de gente que morre por ódio. Na Palestina ou no Iraque (como, há cinco anos, em Nova Iorque) o ódio leva pessoas a um sórdido pacto com a morte: morrem para arrastar consigo outras pessoas, o maior número possível delas. A indústria do ódio, de que alguns grupos islâmicos são hoje os maiores especialistas mundiais, tem uma não menos sórdida vertente negocial: os vendedores prometem, em troca, o preço da bem-aventurança, obviamente a pagar - conforme o ancestral método dos caloteiros, civis ou religiosos - na eternidade. Mas também há, na vida como nos livros, quem morra de desinteressado e gratuito amor. Um estudo das universidades de Harvard e da Pennsylvania, agora publicado, conclui que a morte de um cônjuge aumenta entre 17% e 21% o risco de morte do outro, sobretudo se se trata de casais ligados por longo e fundo amor. Giulietta Masina, Johnny Cash, Sid Vicious, Fernanda Barroso e Dórdio Guimarães morreram pouco depois da morte dos companheiros (Fellini, June, Nancy, Álvaro Cunhal, Natália Correia). E é sabido que também muitos animais, como os cavalos-marinhos (ou os animais domésticos que não resistem à morte dos donos), morrem de amor. O homem é o único animal capaz de morrer de ódio.»
[Morrer de Amor, crónica de Manuel António Pina, no JN a 09.08.2006]
aproveitado daqui